O debate busca envolver a sociedade com o propósito de estimular uma mudança no comportamento das pessoas que enfrentam doenças cardiovasculares
A Sociedade Brasileira de Cardiologia (SBC), em parceria com o Instituto Lado a Lado pela Vida, discute na terça-feira, 31 de outubro, os alarmantes números que envolvem a hipertensão no Brasil e como a iniciativa pública e privada podem atuar para mudança deste cenário. O cenário para esse debate será o “Encontros O GLOBO” e contará com a presença da presidente do Conselho Administrativo da SBC, Andrea Brandão, da presidente do Instituto Lado a Lado pela Vida, Marlene Oliveira, do subsecretário de Atenção Primária, Promoção e Vigilância em Saúde da Secretaria Municipal de Saúde, Renato Cony, da diretora nacional da Cardiologia D’Or, Olga Ferreira de Souza, da diretora de Prevenção Cardiovascular da Sociedade de Cardiologia do Estado do Rio de Janeiro (Socerj), Erika Campana e do educador físico Márcio Atalla. O evento é mediado pela editora de Saúde do O Globo, Adriana Dias Lopes e pelo cardiologista Claudio Domênico.
O objetivo é criar uma “onda” de conscientização e engajamento, envolvendo agentes públicos e privados, de Saúde e a sociedade, para reduzir o número crescente de mortes por razões cardiovasculares – mais de 300 mil por ano – no Brasil.
A iniciativa da SBC busca engajar a sociedade para fomentar uma mudança significativa no comportamento de quem sofre com doenças cardiovasculares, proporcionando, por meio da educação e da tecnologia, um incentivo à adoção de comportamentos de vida saudável, ao automonitoramento da pressão arterial e à adesão ao tratamento.
O Brasil enfrenta nas últimas décadas uma crise preocupante e crescente de saúde relacionada às doenças cardiovasculares, sendo a hipertensão arterial o principal vilão. Atualmente, quase metade da população brasileira entre 30 e 79 anos (45%) é hipertensa, ou seja, convive com a “pressão alta”.
A situação se agrava ao observar que 50% dos pacientes sequer são diagnosticados, deixando muitos à mercê dos riscos associados à doença. Já entre os que sabem que são hipertensos, em todo o mundo, apenas 30% conseguem manter a pressão arterial sob controle, 19% no Brasil1, o que aumenta de forma significativa o risco de Acidente Vascular Cerebral (AVC), popularmente conhecido como “derrame”, infarto do miocárdio e insuficiência cardíaca.
Dentre as razões para essa baixa taxa de controle destaca-se a falta de adesão dos pacientes ao tratamento recomendado, tanto aquele relacionado às mudanças do estilo de vida, quanto ao uso correto dos medicamentos prescritos, o que pode chegar a 60% dos pacientes com doença cardiovascular.
As consequências dessa falta de engajamento dos pacientes hipertensos ao tratamento são trágicas, e incluem o aumento dos casos de hospitalização, absenteísmo no trabalho e aumento dos custos da saúde pública, isso sem falar no aumento da mortalidade cardiovascular, com um elevado número de pessoas que perdem a vida por complicações das doenças cardiovasculares.
“Nesse contexto tão desafiador, precisamos de coragem e união em torno de ações buscando sensibilizar os pacientes sobre os perigos da hipertensão e das doenças cardiovasculares, e oferecer soluções concretas para enfrentar esses desafios, tendo como base o engajamento e o automonitoramento através de ferramentas digitais, o que vai de encontro às mais modernas soluções nessa era tão conectada em que vivemos”, afirma o cardiologista Ricardo Pavanello, Diretor da Sociedade Brasileira de Cardiologia e cardiologista do Instituto Dante Pazzanese de Cardiologia, de São Paulo.
Somadas, as chamadas “Doenças Cardiometabólicas”, que incluem hipertensão, diabetes e angina do peito, são a causa número um de mortes em todo o mundo. Dois em cada 3 pacientes com hipertensão têm alguma doença associada, e 2 em cada 3 pacientes com alguma comorbidade têm hipertensão. Dos 16 milhões de brasileiros portadores de diabetes tipo 2, por exemplo, 60% também são hipertensos. Já entre os 24 milhões que sofrem com angina do peito, o percentual de quem também apresenta “pressão alta” chega a 64%.
O cardiologista Ricardo Pavanello explica que esses números tendem a diminuir através de mudanças comportamentais4, como reduzir ou cessar o uso de tabaco, melhorar a alimentação, controlar o peso, aumentar a atividade física e reduzir o consumo de álcool. “Nenhum tratamento se mostra eficaz se o paciente não entende sua doença e, por conta disso, não se engaja em sua terapia. Precisamos de uma onda de inovação para associar, de forma abrangente, inovação digital, reconhecimento da motivação do paciente em se tratar e seguimento do tratamento a longo prazo, colocando o paciente no centro do processo de cuidado”, ressalta.
Um dos conceitos fundamentais propostos pela SBC é a utilização de soluções digitais para ampliar o acesso dos pacientes a informações valiosas relacionadas a própria doença, e que podem complementar, sem substituir, àquelas obtidas durante a consulta médica. Dentre as iniciativas está o acesso a um aplicativo – já disponível para download no Brasil na Apple Store e no Google Play – chamado Elfie, que se baseia em modernos conceitos de engajamento, permitindo que os pacientes se tornem protagonistas da própria saúde.
A SBC almeja alcançar uma discussão de frente ampla envolvendo todos os atores, tanto o SUS quanto a Saúde Suplementar, para construção de uma meta ambiciosa no controle da pressão arterial, com ações educativas e acompanhamento da evolução de dados de saúde da população através do digital, com ações coordenadas que alcancem todos os cantos da sociedade, desde a conscientização pública até o engajamento dos gestores da saúde e dos próprios pacientes.