Preces, mantras, respiração lenta e a regulação cardiovascular

Estudos científicos comprovam que o ato de rezar pode reduzir significativamente a pressão arterial e equilibrar os reflexos cardiovasculares. O importante, nesse caso, não parece ser a fé ou qualquer outra propriedade espiritual das orações, mas sim a lentificação do padrão respiratório que ocorre em alguns tipos de preces, como os mantras yogues e os rosários cristãos.

As variáveis cardiovasculares sofrem influência do ritmo respiratório. A  respiração lenta, na freqüência de 0,1 Hz, que corresponde a um ciclo respiratório a cada 10 segundos, promove uma sincronização entre a respiração e ritmos cardiovasculares inatos com conseqüente modulação das atividades autonômicas central e periférica. O barorreflexo é o principal mecanismo regulador da pressão arterial em curto prazo, promovendo ajustes pressóricos agudos, batimento a batimento. Há evidências de que a respiração lenta promova melhora da sensibilidade do barorreflexo, da variabilidade da frequencia cardíaca e do fluxo da microcirculação, além de redução na resistência arterial periférica, com consequente atenuação aguda da pressão arterial.  A respiração lenta mostrou-se também efetiva em promover elevações na saturação de oxigênio no sangue e na tolerância ao exercício, além de atenuar a exacerbada sensibilidade do quimiorreflexo.

A técnica de respiração lenta pode ser desenvolvida com treinamento, como fazem milenarmente muitos religiosos, ou com a utilização de equipamentos eletrônicos auxiliares. Existem dispositivos, que, acoplados ao tórax, são capazes de avaliar a respiração e, por meio de uma melodia transmitida ao usuário por fones de ouvido, ajudam a lentificar a respiração, induzindo ao prolongamento do tempo expiratório. Um estudo envolvendo hipertensos leves mostrou que a prática de 15 minutos diários de ciclos de respiração lenta, promove um decréscimo médio de 5,5 mmHg na pressão sistólica e de 3,2 mmHg na pressão diastólica. Tal redução é comparada ao efeito do tratamento farmacológico com monoterapia. A respiração lenta, como recurso não-farmacológico de controle anti-hipertensivo, deve ser realizada por pelo menos 15 minutos ao dia, se possível diariamente, ou pelo menos em 3 a 4 dias por semana.

 

1)   Bernardi L, Sleight P, Bandinelli G, et al. Effect of rosary prayer and yoga mantras on autonomic cardiovascular rhythms: comparative study. BMJ 2001; 323(7327):1446-9.

2)   Anderson DEMcNeely JDWindham BG. Regular slow-breathing exercise effects on blood  pressure and breathing patterns at rest. J Hum Hypertens 2010;24(12):807-13.

 

Por Marcus Vinícius Bolívar Malachias, MD, PhD, é cardiologista clínico, professor da Faculdade de Ciências Médicas de Minas Gerais e candidado à presidência da SBC nas eleições de 2014. www.marcus2014.com.br

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