Impacto da Hipertensão Arterial na Fibrilação Atrial

Dr. Rafael Santos Costa
Cardiologista e Ergometrista pela Sociedade Brasileira de Cardiologia/AMB

No Brasil, a Hipertensão Arterial (HA) atinge 32,5% (36 milhões) de indivíduos adultos, mais de 60% dos idosos, contribuindo direta ou indiretamente para 50% das mortes por doença cardiovascular (DCV). A HA é fator de risco para diversas doenças, sendo uma delas a Fibrilação Atrial (FA). Nas últimas duas décadas, a FA tornou‑se um importante problema de saúde pública, com grande consumo de recursos em saúde. É a arritmia sustentada mais comum na prática clínica, sendo responsável por fenômenos tromboembólicos e alterações cognitivas.  Sua prevalência na população geral foi estimada entre 0,5 e 1%. Além dos fatores de risco clássicos como diabetes, doença valvar, infarto do miocárdio e insuficiência cardíaca, a hipertensão tem um papel muito impactante no surgimento da FA pela sua alta prevalência, com isso sendo o fator de risco mais comum para o desenvolvimento de FA. Os seguintes fatores são atribuídos ao desenvolvimento de arritmias cardíacas em pacientes com hipertensão: HVE, aumento do tamanho do átrio esquerdo, ativação do sistema nervoso simpático (SNS) e renina-angiotensina-aldosterona (SRAA), anormalidades elétricas, e isquemia microvascular. A presença de HVE e FA aumenta o risco de morte súbita 3 a 4 vezes, como mostrado em uma análise secundária do estudo LIFE. A ativação do SNS e do SRAA desempenha um papel fundamental no desenvolvimento, manutenção e progressão da hipertensão e de várias arritmias cardíacas. Um SNS ativado reduz a quantidade de período refratário nos miócitos e promove tanto arritmias atriais quanto ventriculares. A angiotensina II, mediador do SRAA, está implicada na progressão da fibrose atrial e ventricular. Intervenções farmacológicas visando atuar no SNS e o SRAA tem demonstrado ser benéfico para a hipertensão e arritmias cardíacas. Níveis mais altos da angiotensina II e angiotensina são encontrados em paciente com FA. Embora os betabloqueadores sejam frequentemente usados para controle agudo e crônico da FC na FA, eles não são considerados terapias de primeira linha para hipertensão, com isso os IECA e os BRA são drogas preferenciais para controle da HAS e prevenção da FA. Diversos estudos mostraram esse benefício. O estudo LIFE mostrou uma redução de 33% em novos casos de FA com o uso da Losartana comparada com o Atenolol. No trial Value a Valsartana mostrou uma redução de 16% em novos casos de FA comparado com a Anlodipino. Em uma revisão de 12.000 pacientes com IC, a incidência de novos casos de FA foi significativamente menor nos pacientes que receberam betabloqueadores (bisoprolol, metoprolol, bucindolol, carvedilol, nebivolol), com uma redução de risco de 27%. Concluímos assim, que o controle da HAS é fator fundamental para prevenirmos a FA, e que drogas da classe dos IECA e BRA apresentam mecanismos específicos de atuação na redução do risco de arritmias cardíacas.

 

  • Malachias MVB, Souza WKSB, Plavnik FL, Rodrigues CIS, Brandão AA, Neves MFT, et al. 7ª Diretriz Brasileira de Hipertensão Arterial. Arq Bras Cardiol 2016; 107(3Supl.3):1-8
  • Magalhães LP, Figueiredo MJO, Cintra FD, Saad EB, Kuniyishi RR, Teixeira RA, et al. II Diretrizes Brasileiras de Fibrilação Atrial. Arq Bras Cardiol 2016; 106(4Supl.2):1-22
  • Heart Failure Clin 15 (2019) 543–550, https://doi.org/10.1016/j.hfc.2019.06.011 1551-7136/19/_ 2019 Elsevier Inc. All rights reserved.
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