Muito é sabido sobre o bloqueio simpático na insuficiência cardíaca (IC). O estudo do sistema nervoso parassimpático, no entanto, é pouco estudado.
Há inúmeras evidências experimentais na área de IC que sustentam o estudo da modulação parassimpática em humanos. Serra et al., na Universidade Federal Fluminense (UFF), demonstraram efeitos benéficos da piridostigmina, um inibidor da enzima acetilcolinesterase, com resultante estímulo parassimpático. Acabamos de concluir uma tese de Doutorado pela UFF, da aluna Aline Sterque Villacorta, orientada por mim e pelo Prof. Antônio Cláudio Lucas da Nóbrega, em que, pela primeira vez, utilizou-se a piridostigmina por 6 meses, adicionada ao tratamento clássico, em pacientes com IC crônica. Ela foi comparada à ivabradina, em pacientes que permaneciam com frequência cardíaca (FC) elevada, apesar de doses máximas de betabloqueadores. Houve redução significativa da FC nos dois grupos, com queda do NT-proBNP e de marcadores inflamatórios. A piridostigmina, mas não a ivabradina, melhorou a FC de recuperação no primeiro minuto pós-esforço. Essa variável é um marcador de modulação parassimpática e está relacionada ao prognóstico. Nossos dados sustentam a realização de um estudo com maior número de pacientes para confirmar esses achados de longo prazo. Recomendo a leitura do brilhante artigo de Kevin Tracey, publicado na revista Nature, descrevendo como a estimulação parassimpática reduz a inflamação. E recomendo a leitura do Editorial do Dr. Michel Lauer, sobre a FC de recuperação no primeiro minuto, onde ele cita o trabalho de Serra, e recomenda estudos com piridostigmina e ivabradina.
1) 1. Tracey KJ. The inflammatory reflex. Nature 2002;420:853-9. (doi:10.1038/nature01321)
2. 2. Lauer MS. Heart rate recovery. What now? J Intern Med 2011;270:597-9. (http://onlinelibrary.wiley.com/doi/10.1111/j.1365-2796.2011.02452.x/full)
Dr Humberto Villacorta
Diretor Científico do Departamento de Insuficiência cardíaca e Cardiomiopatias da SOCERJ