O impacto da felicidade na proteção cardiovascular

 “Há pessoas que choram por saber que as rosas têm espinho, há outras que sorriem por saber que os espinhos têm rosas!” (Machado de Assis)

Pesquisadores da Escola de Saúde Pública de Harvard avaliaram o impacto do otimismo sobre as doenças cardiovasculares.

Na prática clínica diária, observamos que a atitude dos indivíduos perante a vida parece ter influência sobre a sua saúde e a evolução das doenças. Embora já esteja comprovado o impacto negativo de condições como depressão, ansiedade, raiva e hostilidade, ainda não havia sido bem documentado se há, realmente, influência da positividade sobre a saúde do coração.

Uma revisão sistemática de mais de 200 estudos avaliou os potenciais benefícios da felicidade sobre a saúde cardiovascular 1. Os pesquisadores avaliaram dados relacionados ao chamado bem-estar psicológico positivo, cujos principais componentes são o otimismo, a felicidade hedonista, baseada no prazer, e a felicidade eudaimônica, que enfatiza a felicidade interior.  Observaram, contudo, que esses estados tendem a se correlacionar e, muitas vezes, tais sentimentos se sobrepõem nas pessoas que se consideram felizes. Foram também avaliadas as correlações do bem-estar psicológico com fatores de risco, tais como tabagismo, consumo de álcool, qualidade do sono, atividade física, estilo alimentar, além da presença de disfunções cardiocirculatórias, inflamatórias e processos metabólicos mais relevantes para a saúde cardiovascular.

Os resultados são admiráveis. Ativos psicológicos, como otimismo e positividade não apenas associaram-se a proteção contra os males cardiovasculares, mas também retardaram a progressão das doenças já estabelecidas. Dados revelam que a felicidade protege consistentemente contra as doenças cardíacas, independentemente da presença de tradicionais fatores de risco. O bem estar psicológico positivo também se correlaciona positivamente com um estilo de vida mais saudável e negativamente com hábitos sabidamente deterioradores da saúde. Em conclusão, pessoas felizes e mais otimistas têm um risco até 50 % menor de sofrer um evento  cardiovascular primário.

Referência: Boehm JKKubzansky LD. The heart’s content: the association between positive psychological well-being and cardiovascular health. Psychol Bull. 2012;138(4):655-91.

 


 

Por Dr.Marcus Vinícius Bolívar Malachias

Marcus Vinícius Bolívar Malachias é cardiologista clínico, professor-doutor da Faculdade de Ciências Médicas de Minas Gerais e candidato à presidente da Sociedade Brasileira de Cardiologia (SBC): www.marcus2014.com.br

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