Nome: Marilu; Profissão: Assistente Social – Augusto H. Xavier de Brito

Logo no primeiro grupo de profissionais contratados para inaugurar o Serviço de Assistência Social do velho hospital municipal, veio a assistente Maria de Lourdes Junqueira Botelho de tradicional família mineira ou, mais simplesmente, Marilu como ela gostava de ser chamada. Morena clara beirando os trinta anos, solteira, corpo um tanto rechonchudo sobre pernas roliças, seios volumosos e quadris largos, rosto redondo com escassas sardas bem disfarçadas por leve camada de pó-de–arroz, lábios sem pintura e um eterno sorriso no rosto, Marilu era um exemplo perfeito de dinamismo, simpatia e eficiência, capaz de transmitir confiança e serenidade no olhar. E como costumasse chamar para si responsabilidades que, não raro, extrapolavam suas funções, cedo conquistou a todos com seu trabalho, seu permanente bom humor, sua espontaneidade e sua incansável disposição para “quebrar todos os galhos” que surgiam em sua área.

Um belo dia, em meio a um plantão vespertino inusitadamente calmo, entra no Hospital uma ambulância a toda velocidade, sirene ligada no volume máximo, trazendo um poli traumatizado grave, vítima de atropelamento sofrido poucos minutos antes. Tratava-se de um homem com cerca de 50 anos de idade com múltiplas fraturas, rotura de víscera maciça e traumatismo crânio-encefálico com hemorragia cerebral evoluindo rapidamente para coma e choque hemorrágico, com quase nenhuma chance de sobrevida. A par do atendimento médico de emergência, fazia-se necessário avisar imediatamente a família.

Dessa forma, o próprio chefe da equipe médica dirigiu-se à sala das assistentes sociais para dar-lhes ciência da necessidade de um contato imediato, ainda a tempo de constatar que a sempre presente Marilu já estava tomando todas as providências cabíveis, e de escutar através da porta entreaberta da sala seu diálogo com alguém da família do acidentado, conversa da qual só se ouvia o que falava um dos interlocutores.

–   Alô… de onde fala?

–   …   …   …

–   É da casa do Sr. Fulano de Tal?

–   …   …   …

–   Por favor, com quem estou falando?

–   …   …   …

–   Ah!  Dona Fulana… a senhora é a esposa dele?

–   …   …   …

–  Aqui quem fala é Marilu… M A R I L U … é… a senhora não me conhece… eu sou assistente social do Hospital Souza Aguiar e estou lhe telefonando para…

–   …   …   …

–   Que é isso, minha senhora?  Quem falou em morte? Ninguém morreu, não senhora!

–   …   …   …

– Estou ligando para avisar que seu marido…

–  …   …   …

– Calma, minha senhora… calma… um momentinho, por favor… não precisa ficar nervosa à toa…deixa eu explicar primeiro!

–  …   …   …

– É.. Seu marido… ele deu entrada no hospital ainda há pouco e estou lhe telefonando para avisar que… não minha senhora… não chore, por favor, acalme–se!

– …   …   …

– Isso… fique calma… não… não há nada de grave… foi só um pequeno acidente e é provável que ele tenha que ficar internado…

– …   …   …

– Minha senhora… por favor! … já disse que não precisa chorar…

– …   …   …

– Não… não… é claro que não estou mentindo pra senhora.

– …   …   …

– É que é preciso que alguém da família venha até aqui para…

– …   …   …

– É.. É só isto mesmo, minha senhora… já disse… de verdade!

– …   …   …

– É que o Hospital precisa de alguém da família para os procedimentos burocráticos, sabe como é, ? Ah… bom! Quer dizer que é a senhora mesma que vem? Ótimo… ótimo… então, estou lhe esperando. Mas…oh! … olha aqui… (pausa mais longa, quase suspirada) … acho bom vir depressa, tá?


Por Sobrames – RJ

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