Luiz Eduardo Camanho
A precordialgia (“dor no peito”) é um sintoma de grande importância na população adulta, especialmente após os 30 anos de idade, por ser a principal manifestação clínica de doença coronariana aguda ou crônica.
Apesar de menos prevalente na faixa etária pediátrica, a ocorrência de precordialgia em crianças atendidas no setor de emergência varia de 8 a 21%, e desta forma, é um sintoma que merece atenção e avaliação criteriosa.
Durante o episódio clínico, os principais meios diagnósticos são a história e o exame físico. Sinais clínicos de baixo débito (palidez cutâneo-mucosa, sudorese fria, hipotensão arterial e cianose de extremidades), além de pulso rápido e filiforme, indicam fortemente o diagnóstico de taquicardia supraventricular como causa da sintomatologia. Nesses casos, o eletrocardiograma (ECG) basal é fundamental e diagnóstico. Outras causas possíveis, porém, menos freqüentes, seriam: asma esforço-induzida, origem anômala coronariana, cardiopatia congênita complexa, entre outras.
A avaliação de precordialgia recorrente e não documentada eletrocardiograficamente requer anamnese cuidadosa e propedêutica adequada.
É importante ressaltar que a principal manifestação clínica de taquiarritmias sustentadas em crianças é a precordialgia. Na grande maioria das vezes, tais pacientes não apresentam nenhuma evidência de cardiopatia estrutural, e são portadores de taquicardia paroxística supraventricular (TPSV).
Portanto, é fundamental uma anamnese detalhada, procurando-se identificar sintomas clássicos, e que geralmente são descritos pelo responsável pela criança: palidez oral, “coração acelerado”, pré-síncope e/ ou síncope. O caráter paroxístico e transitório da queixa clínica fortalece o diagnóstico da arritmia.
Outro sintoma que não raramente é referido isoladamente ou em associação à precordialgia é a dor abdominal, como manifestação de TPSV.
A realização de ECG basal é mandatória em todos os pacientes, com o objetivo de identificar-se a presença de síndrome de pré-excitação ventricular, extrassistolia ou outros diagnósticos eletrocardiográficos indicativos da etiologia dos sintomas.
Vale ressaltar que o Holter de 24 horas, apesar de muito utilizado na prática clínica, tem valor limitado nos casos de precordialgia paroxística com ECG e exame físico normais.
Outros métodos não-invasivos relacionados à investigação desse sintoma e com indicações específicas seriam: holter de eventos e teste ergométrico.
Apesar dos vários métodos não-invasivos disponíveis, é importante salientar a dificuldade diagnóstica em grande número de pacientes.
Nos casos em que a avaliação propedêutica inicial não elucida o diagnóstico e a criança permanece sintomática, a utilização de digoxina ou propranolol, como teste terapêutico, é uma opção válida e segura. Em crianças acima de 20 Kg ou acima de 6 anos de idade, em que há dificuldade diagnóstica e/ ou inadequado controle terapêutico com as drogas usuais, está formalmente indicado o Estudo Eletrofisiológico invasivo, com a real possibilidade de realizar-se a ablação por radiofreqüência e conseqüente resolução dos sintomas. Tal metodologia é segura e altamente eficaz na população pediátrica descrita acima.
Desta forma, a abordagem de precordialgia em crianças deve basear-se nos dados da história e exame clínico, lembrando-se sempre, que o principal diagnóstico relacionado a esse sintoma é a arritmia cardíaca, em especial, a TPSV.