O Cuidado Centrado no Paciente de AVC: Uma Experiência em Grupo

Segundo o Ministério da Saúde, o Acidente Vascular Cerebral (AVC) é considerado no Brasil uma das principais causas de internações, mortalidade e deficiências, acometendo a faixa etária, sobretudo, acima de 50 anos, superando até mesmo as doenças cardíacas e o câncer (Ministério da Saúde, 2012).

Frenquentemente, este quadro leva a comprometimentos parciais ou até totais na atividade do sujeito, com graves repercussões para ele, sua família e a sociedade. É muito comum nestes casos a necessidade de cuidados de outros, que normalmente ficam sob a responsabilidade da família, uma vez que esta é o grupo primário de identidade e socialização deste paciente.
A doença, assim como a hospitalização, promove um corte no cotidiano do paciente e de sua família, sendo necessária mudanças significativas e de profundo impacto em suas vidas, bem como vivências de solidão e de perdas.

Atualmente, diversos trabalhos ressaltam que valores familiares e culturais possuem um papel essencial no processo de reabilitação dos pacientes vítimas de acidente vascular cerebral (AVC). Entretanto, para que estes familiares possam fornecer estes cuidados, é fundamental oferecer-lhes instrumentos e um suporte emocional para atuarem diante dessa nova condição. As organizações de saúde vêm enfatizando a importância do processo educacional intra-hospitalar aos familiares, inserindo-os como um elemento da linha do cuidado(1,2).

Este “processo educacional” deve incluir compartilhamento de informação, com o foco para o auto-cuidado e autonomia aos cuidadores. A informação fornecida deve ser relevante para as mudanças de necessidades do paciente e famliía quanto à interatividade e adaptação do seu momento atual diante das singularidades de cada binômio (paciente/família). É fundamental a estes também um espaço de escuta para acolhimento e elaboração de tais mudanças como, por exemplo, para redistribuição de responsabilidades, adoção de novos papéis e tomada de decisão em relação ao presente e ao futuro.

Baseando-se nestes principios destacados e entendendo que a comunicação entre equipe e paciente/família é um alicerce importante para uma relação de confiança e segurança no processo de reabilitação, a equipe multidisciplinar do Hospital Pró-Cardíaco
desde 2011 realiza semalmente reuniões com pacientes e familiares.

Essas reuniões são coordenadas pela Equipe de Psicologia junto ao Time de AVC composto por fisioterapeutas, fonoaudiologos, nutricionistas, farmacêuticos, médicos, enfermeiros.

Esses encontros são divididos em dois momentos:

1. Reunião Intra-hospitalar – no momento em que o paciente encontra-se internado no Hospital, seus familiares e cuidadores são convidados a participarem deste encontro que tem duração média de 1 hora e são realizadas semalmente.

2. Reunião Após Alta Hospitalar – uma vez por mês. Nesses encontros convidamos além dos familiares dos pacientes que estão internados, os pacientes e familiares que já tiveram alta hospitalar.
Essas reuniões tem como objetivos:

• Criar um canal de comunicação intra-hospitalar e de pós-alta entre a equipe multiprofissional e o paciente/família;
• Identificar a adesão às orientações fornecidas pela equipe multidisciplinar durante a internação;
• Identificar oportunidades de melhoria no processo de comunicação entre equipe multidisciplinar e familiares;
• Desenvolver ações educativas com o familiar, dentre elas, temas relacionados à prevenção secundária do AVC – oferecendo ferramentas para que se tornem multiplicadores das ações de prevenção
• Criar um espaço de escuta e acolhimento aos familiares perante angústias inerentes ao AVC e o processo de reabilitação.

A escolha deste método de trabalho é baseada no entendimento de que a “o ser humano é gregário por natureza e ele somente existe em função dos seus inter-relacionamentos grupais” (Zimerman, 2012). A idéia do grupo potencializa as trocas dialógicas, o compartilhamento de experiências e de saberes, permitindo o desenvolvimento de corresponsabilização do projeto terapêutico, vínculo, acolhimento e autonomia no processo de cuidado. Até mesmo os participantes que mostram dificuldade de interagir constroem um aprendizado a partir do relato de experiências dos outros.
É útil enfatizar o fato de que este tipo de grupo permite um sentimento de indentificação entre os participantes, uma vez que existe uma troca de experiências similares entre eles.
Deste modo, pode-se concluir que o grupo é um espaço continente e facilitador que possibilita a equipe de saúde conhecer melhor os desafios do processo de comunicação, identificando oportunidades de melhoria institucionais, assim como trabalhando no impacto positivo da experiência de internação do paciente e família. Nesse formato de grupo percebe-se maior clareza nos níveis de conhecimento sobre questões discutidas no grupo, na capacidade para lidar com situações inerentes do quadro em si, na confiança com a equipe, com a sua própria condição de cuidador, além de alívio emocional.

REFERÊNCIAS:
BION, W.R. (1962). Experiencias en Grupos. Buenos Aires: Ed. Paidós, 1963.
Bocchi, S. C. M. (2004). O Papel Do Enfermeiro Como Educador Junto A Cuidadores Familiares de Pessoas com AVC. Acessado em: 02/10/2014. Disponível em: http://www.scielo.br/pdf/reben/v57n5/a11v57n5.pdf
Bocchi, S. C. M. & Angelo, M. (2005). Interação Cuidador Familiar-Pessoa Com Avc: Autonomia Compartilhada. Acessado em: 10/10/2014. Disponível em: http://www.scielosp.org/pdf/csc/v10n3/a29v10n3.pdf
Ministério da Saúde. (2012). Disponível em http://www.saude.gov.br
Canadian Stroke Best Practice Recomendations. (2011). The Patient and Family Guide to Canadian Best Practice Recommendations for Stroke Care. Acessado em: 10/10/2014. Disponível em: http://www.strokebestpractices.ca
Ribeiro L, Newmann C. (2010). Estudos Qualitativos com o Apoio de Grupos Focados, X SEPROSUL – Semana de engenharia de Produção Sul Americana, Chile.
Zimerman, D. (2007). A Importância Dos Grupos Na Saúde, Cultura E Diversidade. Acessado em: 13/10/2014. Disponível em: http://pepsic.bvsalud.org/scielo.php?pid=S1806-24902007000100002&script=sci_arttext

Por Natália Telles, Julia Bacha, Isaura Rocha e Sara Kislanov

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