É amplamente reconhecido que “a estratégia de corrida” de um atleta, ou como um atleta distribui o trabalho e energia em toda a tarefa de exercício, pode ter um impacto significativo no desempenho. Através da aplicação dessa estratégia, treinadores e pesquisadores têm observado uma variedade de estratégias de estimulação.
Do ponto de vista fisiológico, podemos destacar variáveis que interferem diretamente na performance e/ou endurance dos atletas, são elas: VO2 máx, economia de corrida, Limiar anaeróbico, limiar de lactato, limiar ventilatório, manutenção da temperatura corporal e perda hídrica.
Sabe-se que o VO2max é específico para cada modalidade de exercício. Mas não são encontradas na literatura especializada diferenças significativas no VO2 máx entre corredores, ciclistas e triatletas. Além disso, os músculos têm a capacidade de se adaptar especificamente a uma dada tarefa de exercício durante um período de tempo, resultando em uma melhoria nas variáveis fisiológicas submáximos como o limiar ventilatório e limiar anaeróbico, em alguns casos, sem uma mudança no VO2max. Ou seja, o condicionamento aeróbico entre eles não difere, mas outras adaptações fisiológicas e bioquímicas podem ser percebidas. No que tange a diferença entre o “corredor triatleta” e o “corredor puro”, pode-se explicar algumas distinções a partir destes parâmetros. Os triatletas podem ter vantagens pela natação, por ser um esporte que trabalha bem o limiar ventilatório e uma melhor troca gasosa, o que pode conferir uma vantagem na corrida sobre um corredor puro, da mesma forma que no ciclismo, o atleta tem uma dificuldade na expansão dos pulmões e uma compressão do diafragma por conta da posição que se pedala, em contra-partida, é uma modalidade em que se pode fazer uma melhor manutenção da temperatura corporal, pois pedala-se numa velocidade bem maior do que se corre, o que facilita a ventilação e contribui para a manutenção da temperatura corporal, o que é fundamental para a manutenção ou uma perda menor de performance. Este mecanismo torna-se valioso, sobretudo, porque o triatleta corre em temperaturas mais elevadas, pois a corrida é sempre a parte final do treino ou prova, se tornando imprescindível que ele desenvolva eficientes mecanismos de manutenção de sua temperatura. Tem sido demonstrado em alguns estudos que a cadência de pedalada afeta as respostas metabólicas durante o ciclismo, mas também durante uma corrida subsequente. E que estudos recentes indicam que a fadiga central e diminuição na força máxima são mais importantes após o exercício prolongado de corrida do que no ciclismo. O que poderia ser vantajoso para um corredor puro, fazer um cross-training de bicicleta, considerando uma recuperação mais rápida e menos danosa para o corpo, mas conferindo ótimas adaptações fisiológicas oriundas de um exercício aeróbico.
Outro ponto importante que difere bastante a corrida de triatletas e corredores é a mecânica de corrida e consequentemente a economia de corrida, que ainda é pouco estudada no âmbito científico e menos ainda aplicada pelos treinadores. De forma simplificada, podemos entender que a economia de corrida é expressa no custo de oxigênio para correr a uma determinada velocidade, por uma certa distância que é expressa em: mL/kg/km.
Por exemplo: dois atletas com o mesmo VO2 max de 70 mL/kg/min, mas diferentes características de economia corrida, onde um atleta usa menos oxigênio para funcionar em velocidades sub-máximas (ou seja, tem a melhor economia de corrida) do que o outro atleta. Supondo que, os dois atletas trabalhando a 80% do VO2máx, o atleta com a melhor economia de corrida vai correr a 20km/h enquanto o outro a 19km/h. Portanto, parece mais importante para a performance, saber seu limiar anaeróbico e sua economia de corrida do que o VO2máx de um atleta, ainda que o mesmo seja um bom parâmetro de aptidão física, já que um baixo VO2máx pode ser compensado por uma boa economia de corrida, pois resulta na utilização de um menor percentual de VO2 max do atleta durante uma carga de trabalho prolongada e, consequentemente, uma redução da utilização de glicogênio muscular, e potencialmente reduzindo a acidose metabólica, e retardando a fadiga.
Um estudo norte-americano comparou o custo de energia (CE) de atletas que fizeram um triathlon de curta distância e em outro momento uma corrida de duração semelhante com condições parecidas. O CE aumentou mais durante a maratona (11,7%) do que durante o triathlon (3,2%). As diferenças foram creditadas principalmente devido a uma queda maior no peso corporal relacionado com as perdas de fluido, um maior aumento da temperatura central e alterações mecânicas significativas durante a corrida, quando comparadas com a parte de corrida do triathlon. No geral, parece que a principal diferença na performance de corrida entre corredores de elite e triatletas foi creditada principalmente por uma maior massa corporal em triatletas (afetando VO2max proporcional) ao invés de diferenças na economia de corrida.
Do ponto de vista biomecânico, um dos principais mecanismos de economia de energia na corrida é o mecanismo de contração concêntrica/excêntrica da musculatura. Como a cadência de passadas(número de passadas) por minuto ideal ainda é muito discutido e controverso na literatura, a economia de corrida se torna um bom parâmetro para avaliar qual a melhor estratégia neste sentido para o corredor, e neste ponto a troca de experiências entre triatletas e corredores puros é benéfica e bem proveitosa. Estudos evidenciam que corredores de média a longas distâncias tendem a adotar uma estratégia “positiva” de pace(ritmo de corrida), segundo o qual, após a velocidade de pico ser atingida o atleta progressivamente abranda. Aumentando novamente seu ritmo no final da prova. No entanto, triatletas de provas de média e longa distância tendem a adotar um pace progressivo ao longo da corrida, preservando sua energia e adotando uma mecânica confortável desde o começo da prova e progredindo ao longo da mesma. Entretanto estes resultados não podem ser tomados como regra, necessitando de mais pesquisas na área. Mas, certamente, a regulação do ritmo é pensado para ser ditado, principalmente, pela capacidade de um atleta de resistir à fadiga, buscando o padrão ouro da performance que pode-se dizer que é a melhor relação intensidade X economia de energia.
Por Diego Porto
Coordenador técnico da equipe Trisporto Triathlon Team
Professor da Academia Velox Fitness
Mestrando em Cardiologia –UFRJ
Contato: trisportoteam@gmail.com