Scorsatto M1; Uehara SK2
1- Nutricionista, Doutoranda em Cardiologia, Universidade Federal do Rio de Janeiro.
2- Nutricionista, Doutora em Ciências Nutricionais, Universidade Federal do Rio de Janeiro
Dados da Pesquisa de Orçamentos Familiares (2008/2009), realizada pelo IBGE em parceria com o Ministério da Saúde, revelaram um aumento contínuo de excesso de peso e obesidade na população adulta desde 1974. Este perfil nutricional associado à busca desenfreada pelo padrão de beleza atual (magreza) tem contribuído para a grande veiculação, por meio da mídia, de suplementos alimentares que prometem um emagrecimento rápido. Além disso, o conceito de tratamento da obesidade, por meio da estimulação da termogênese, é atualmente um foco de grande atenção por parte das indústrias farmacêutica, nutracêutica e de alimentos funcionais. Neste contexto, surge a dúvida quanto à eficácia e a segurança dos suplementos alimentares.
Apesar dos estudos demonstrarem que a obesidade é uma doença de origem multifatorial e que uma das bases de seu tratamento consiste em mudanças no estilo de vida, destacando a prática de hábitos alimentares saudáveis e de atividade física, cujo resultado é observado em longo prazo. A mídia, por sua vez, vende a idéia contrária, ou seja, divulga frequentemente produtos ditos milagrosos, como por exemplo transforma um alimento como a berinjela, em farinha e a vende prometendo emagrecimento rápido, melhora do perfil lipídico e aumento da saciedade. Nesta mesma categoria, se enquadram muitos outros alimentos e/ou suplementos, como exemplo o óleo de coco, a linhaça, a chia, óleo de peixe, óleo de cártamo, farinhas (feijão branco, maracujá, banana verde, laranja, limão, soja preta, mamão, uva, cenoura, maçã, ameixa e semente de abóbora).
A velocidade com que os alimentos e ou suplementos supracitados são lançados no mercado é totalmente incompatível com o tempo necessário para que sejam conduzidos estudos bem delineados que consigam mostrar os reais benefícios ou ausência dos mesmos, bem como efeitos adversos. Além disso, enquanto a população consome cada vez mais as fórmulas ditas “milagrosas”, contribuindo para o enriquecimento da indústria alimentícia, a prevalência de sobrepeso e obesidade é crescente.
Revisão de artigos científicos publicados nos últimos 5 anos, que investigaram o efeito do uso de diferentes suplementos no emagrecimento em humanos, mostra resultados controversos e inconclusivos, a maior parte trata-se de estudos experimentais com animais ou, quando em humanos, apresentam diversas limitações, como tamanho amostral, tempo de acompanhamento, quantidade suplementada, forma de administração e diversas variáveis relacionadas ao estilo de vida.
O profissional de saúde precisa ser capaz de buscar informações embasadas cientificamente, para orientar os seus pacientes que tenham questionamentos sobre a eficácia de determinado suplemento, além disso, cabe a estes profissionais alertarem sobre a inconsistência de resultados e efeitos adversos, reforçando a idéia de que “fórmula mágica”, que resulte em emagrecimento rápido e saudável não existe. É importante destacar que, quando usados de maneira indiscriminada, alguns suplementos podem resultar em emagrecimento rápido, porém não sustentável, uma vez que não houve modificação do estilo de vida, resultando no temido “efeito sanfona”.
Enquanto não temos evidências científicas suficientes para prescrição destes suplementos, precisamos ser cautelosos nas orientações. Os estudos publicados até o momento são unânimes quanto à necessidade de ensaios clínicos adicionais, bem controlados, objetivando estabelecer uma quantidade segura e eficaz.
Referências:
– Dulloo AG. Thermogenic Bioactive Food Ingredients. Obesity Reviews. 2011; 12: 866-883.
– Egras AM et al. An Evidence-Based Review of Fat Modifying Supplemental Weight Loss Products. Journal of Obesity. 2011: 1-7.