Crônicas agudas

Situações que me levam a escrever, são as motivações impactantes da vida, de filmes, livros, de ocorrências até então inusitadas que após transfixarem os chips de minha retina, conectam e burilam minha mente e aceleram o meu coração como no desenho do Temito, em que ao invés de uma reação bélica, brota uma resposta eufêmica, humorada e suave representada pela delicadeza das flores.

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E assim eu pesquei no meu baú (HD) estas crônicas, para a rápida e sucinta resposta a novidades emocionais que foram consideradas de caráter AGUDO, fazendo brotar o título CRÔNICAS AGUDAS, e o DR. CESAR, ficou por conta da cabotinagem e egocentrismo do menino humilde do interior do estado do Rio que as custas da perseverança, ajuda da família e dos amigos, alcança em grau máximo os seus objetivos.

Prefácio

 

Hoje, mais do que nunca, precisamos de ler – crônica, poesia, romance, conto, novela. Precisamos de literatura do mesmo modo que os escravos e, posteriormente, os trabalhadores rurais e urbanos precisavam de canções para ajudar a suavizar o trabalho pesado. Viver, neste mundo atual, é um trabalho pesado.

Manuel Bandeira disse que “existir em vão [é] o mais pungente dos cansaços”. É óbvio que Cesar Nascimento, médico cardiologista, e que trabalha, também, em hospital público, não existe em vão. Mas, por sua vivência de tudo isso, o convívio diário com a vida e a morte, o sofrimento do povo brasileiro, a precariedade dos serviços de saúde pública – temas abordados neste Crônica aguda – além de suas próprias idiossincrasias, talvez escolha escrever, relatar e dividir seus relatos com os leitores como um refúgio, um símbolo de evasão do existir.

Estão, neste livro, o jargão médico – como não poderia deixar de ser – mesclados aos da rua, da caserna, dos músicos vizinhos de bairro, dos pacientes, dos ambientes domésticos (seu, originário do subúrbio carioca, hoje, num bairro da Zona Sul, e o da família de sua esposa, de origem judaica).

A linguagem revela a multiplicidade de relações, processos e estruturas que constituem a dinâmica da vida social, em várias de suas manifestações. E a marca registrada do autor é o humor, às vezes corrosivo, às vezes com uma pitada de lirismo.

Uma das breves crônicas do livro:

Mais morto que o defunto

Cesar A S Nascimento

 

Gostaria de explicar de onde surgiu a explicação endorfínica para este título, ocorre que durante o meu quase habitual teste de Cooper onde eu sorrateiramente dou umas 3 a 4 voltas no campo, encontrei nossa vizinha que já estava correndo quando cheguei, fiquei sudorêico, estafado e para não precipitar o meu primeiro enfarte do miocárdio, chego apenas na terceira ou quarta voltinha, sem nenhum complexo de inferioridade, até mesmo porque transfiro o provérbio mineiro “ cante mesmo que baixo “ para a minha sofrível condição física “ corra mesmo que pouco “, mas ao ver a minha vizinha ex-futura defunta correndo mais do que eu, bateu um complexo de inferioridade, uma preocupação e pensei – “ é tô quase morto “!.

Esta impressão tão impactante surgiu porque no ano passado quando às 3 horas da manhã o vizinho da frente batendo fortemente na minha porta bradou – Dr. Cesar! Dr. Cesar!
– Quem esta batendo a esta hora! Pensei, não é ladrão, pois o ladrão não bate  nem chama pelo nome.                     .
Abri a porta e o vizinho da frente Danterildo (mudei o nome pois ainda não solicitei o consentimento pós-informação para escrever esta história, e Danterildo pasmem é dos nomes de minha família que junto com Atabírio, Ypenô e outros que só posso falar com a tecla SAP ligada, eu gostaria que vocês soubessem que existem mesmo), onde estava mesmo Ah! O Danterildo esbravejando – Minha mulher morreu! Minha mulher morreu! Minha mulher morreu! – O que é isso! Vamos lá pra ver. E lá estava ela, cinza, cianótica, pétrea, parada, sem respiração e sem pulso. Perplexo fiquei, teremos que ir para o IML, mas num ímpeto resolvi joga-la ao chão massagear o esterno, nada, nenhuma resposta, resolvi dar-lhe um soco no tórax e pedi que o Danterildo fizesse o boca a boca (fica melhor pro marido, vá que ela se recupere e se apaixone por mim). Vai lá Danterildo tapa o nariz dela! A cada 8 compressões do tórax o Danterildo soprava a boca da defunta até que na 4 vez ela respondeu. Depois abriu os olhos, torporosa, sem entender nada começou com ânsia de vômito e ao começar a vomitar eu a virei de lado e depois de uns dois jatos de vômitos, ela começou a se movimentar e tentar falar, ao perguntar-lhe, sente dor no tórax, ela disse, – não estou com dor de cabeça, fiz anamnese sendo negativa para enfarte e o Danterildo trouxe exames de um check up cardiológico recente, todos normais. Chamamos a ambulância e a ex-defunta foi levada ao hospital, onde após exames detectou-se aneurisma cerebral sendo operada com sucesso, e sendo a provável causa da parada uma fibrilação ventricular secundária a encefalopatia hipertensiva secundária ao aneurisma cerebral, agora curado. Um ano depois ela recuperou não só a saúde como também sua forma física, inclusive superando a minha tímida ou precária forma física de ex-atleta aposentado e que me colocou na condição de mais morto que a ex-futura defunta gerando estas nítidas e bem traçadas linhas graças ao office do meu computador, vou tentar comprar uma bicicleta elétrica, um skate motorizado ou um jetback, para que eu possa bicicletar, correr e voar, sem nenhum complexo de inferioridade inventado por Freud para os humanos, pois hoje já estamos no maravilhoso mundo novo de Huxley no qual um ex-defunto corre mais que um ex-atleta.

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Por Dr. Cesar A S Nascimento
Cardiologista

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