Novo estudo reforça a hipótese do paradoxo da obesidade

Hipócrates teria dito que a morte súbita é mais prevalente nos obesos que nos indivíduos magros (Sudden death is more common in those who are naturally fat than in the lean) [1]. A afirmação representa um senso comum que norteia boa parte dos médicos que lidam com fatores de risco.

Foi publicada na semana passada uma meta-análise no JAMA [2] que reforça a hipótese potencialmente perigosa do paradoxo da obesidade. Os autores combinaram dados de 97 estudos de diversos paises que incluiu 2,88 milhoes (!) de indivíduos e 270 mil mortes. Todos os estudos investigaram a relação entre o índice de massa corporal (IMC) e mortalidade por todas as causas, gerando razões de risco (hazard ratios – HR) para categorias de IMC. Comparada com o grupo normal (20<IMC<25kg/m2) o HR para o grupo de pacientes com sobrepeso foi  0,94 (95% IC 0,91-0,96) e pacientes com obesidade grau I (30 <IMC<35kg/m2) foi 0,95 (95% IC 0,88-1,01). Grupos com obesidade em grau II ou III (IMC >35 kg/m2)  apresetaram maior risco de morrer, com HR de 1.29 (95% IC 1,18-1,41). Essas observações incluem análises de contribuidores potenciais de heterogeneidade que não revelaram impacto significativo nas conclusões do estudo. Essa publicação incluiu uma revisão sistemática na mesma edição [3] discutindo a influência do índice de massa corporal na avaliação adequada do risco dos pacientes.

A hipótese do paradoxo da obesidade é relativamente antiga.  Mosterd [4] ao avaliar em 2001 os fatores que influenciavam a mortalidade em pacientes com insuficiência cardíaca, notou que o IMC maior atuava favoravelmente nesses pacientes. Diversos outros estudos se seguiram relacionando um suposto efeito positivo do sobrepeso na doença cardiovascular. Resultados semelhantes foram encontrados  em pacientes com infarto agudo, pacientes submetidos a cirurgia de revascularização e pacientes com acidente vascular encefálico [5].

Enquanto os pesquisadores ainda procurem respostas e proponham explicações para o aparente paradoxo, não se pode supor que essa hipótese é real ou se foi resultado de fatores não considerados nas pesquisas. Muito caminho ainda terá que ser trilhado antes de solucionar esse enigma.

1. J. Chadwick, W.N. Mann. Medical Works of Hippocrates. Blackwell Scientific, Boston, MA (1950), p. 154

2. Flegal KM, Kit BK, Orpana H, Graubard BI. Association of all-cause mortality with overweight and obesity using standard body mass index categories: A systematic review and meta-analysis. JAMA 2013; 309:71-82

3. Heymsfield SB, Cefalu WT. Does body mass index adequately convey a patient’s mortality risk? JAMA 2013; 309:87-88.

4. Mosterd, A et al, The Prognosis of Heart Failure in the General Population: The Rotterdam Study, European Heart Journal 22, 1318-1327, 2001. http://eurheartj.oxfordjournals.org/cgi/reprint/22/15/1318

5. Doehner W, Schenkel J, Anker SD, et al. Overweight and obesity are associated with improved survival, functional outcome, and stroke recurrence after acute stroke or transient ischaemic attack: Observations from the TEMPIS trial. Eur Heart J 2012

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