Denervação simpática renal no tratamento da hipertensão resistente e muito mais

A denervação parcial de feixes simpáticos presentes nos rins para o controle da hipertensão arterial representa uma das novas esperanças no tratamento cardiovascular. O assunto tem ganho especial destaque nos principais congressos e nas muitas publicações internacionais de nossa especialidade. Estudos como o Symplicity 2, demonstraram a potencia da técnica em reduzir a pressão arterial de hipertensos resistentes a múltiplas associações medicamentosas 1. No referido ensaio, foram avaliados comparativamente 106 indivíduos, com média de 58 anos, 57% homens, 34% diabéticos, que utilizavam cerca de 5 diferentes fármacos anti-hipertensivos, mantendo níveis sistólicos em torno de 178 mmHg. No grupo de intervenção, a redução média da pressão sistólica, ao fim de 6 meses, foi de 32 mmHg. Há indícios de que a denervação simpática renal exerça também benefícios sobre o controle glicêmico, melhorando a resistência à insulina, reduza a albuminúria e a hipertrofia ventricular esquerda, melhore a fração de ejeção em portadores de insuficiência cardíaca, atenue a apnéia obstrutiva do sono, assim como possa reduzir arritmias e o limiar para o desenvolvimento de fibrilação atrial 2. Além disso, especula-se que o procedimento possa ser utilizado, no futuro, em pré-hipertensos, filhos de hipertensos e indivíduos metabólicos, que têm elevada atividade simpática e nos quais a intervenção possa prevenir o desenvolvimento de hipertensão ou atenuar suas consequências. Um recente estudo demonstrou a custo-efetividade do procedimento em comparação ao tratamento clínico convencional de hipertensos resistentes, ao reduzir os riscos em 10 anos de acidente vascular cerebral, de 30% para 17%, respectivamente; do infarto do miocárdio, de 32% para 15%; todas as formas de doença coronária, de 22% para 10%; insuficiência cardíaca, de 21% e 8%; e estágio final da doença renal, de 28% para 19% 3. O tratamento, ainda em fase experimental, aguarda a aprovação das agências reguladoras internacionais para utilização clínica, que deve ocorrer no próximo ano, mas já movimenta uma legião de entusiastas ávidos para iniciar a aplicação da técnica. Nesse momento, é importante que se estabeleçam equipes híbridas, compostas de cardiologistas intervencionistas e especialistas clínicos com experiência no manejo da hipertensão, para que o procedimento seja realizado com critérios, equipamentos específicos e indicações precisas, excluindo-se, por exemplo, as várias causas secundárias de hipertensão, cuja prevalência é alta nos hipertensos resistentes. É também grande a expectativa das mais de 50 empresas internacionais envolvidas no desenvolvimento de variados protótipos de cateteres e sistemas de denervação renal, de olho no imenso e promissor mercado.

1)   Symplicity HTN-2 Investigators. Renal sympathetic denervation in patients with treatment-resistant hypertension (The Symplicity HTN-2 Trial): a randomised controlled Trial. Lancet. 2010; 4;376(9756):1903-9.

2)   Böhm M, et al. Renal sympathetic denervation: applications in hypertension and beyond.Nat Rev Cardiol. 2013;10(8):465-76.

3)   Geisler BP, et al. Cost-effectiveness and clinical effectiveness of catheter-based renal denervation for resistant hypertension. J Am Coll Cardiol. 2012;60(14):1271-1277

 

Por Dr. Marcus Vinícius Bolívar Malachias, MD, PhD,

cardiologista clínico, Professor da Faculdade de Ciências Médicas de Minas Gerais e candidado à Presidência da Sociedade Brasileira de Cardiologia no pleito de 2014

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